
Performances Estético-Políticas
A Coletiva Transperformática Ruidosa Alma é um espaço de experimentação estética e política que busca tensionar as narrativas coloniais e cisnormativas predominantes no campo das artes cênicas. Originada em Pelotas (RS), a coletiva opera como uma plataforma de criação de performances relacionais que colocam em destaque as subjetividades trans, travestis e não binárias, promovendo rupturas nas estruturas tradicionais do fazer teatral.Inspiradas pelo Teatro do Oprimido e pela Teatra da Oprimida, as performances da Ruidosa Alma trazem o público como elemento ativo e criativo, desconstruindo a passividade espectadora imposta pelas estéticas hegemônicas. Por meio de jogos cênicos, intervenções performáticas e uma abordagem profundamente autoral, a Coletiva transforma a cena em um espaço de resistência e de expressão de trajetórias dissidentes.
Com uma ética comprometida com a luta anticolonial e a inclusão de novas corporalidades no território artístico, a Ruidosa Alma articula práticas que entrelaçam experiências pessoais e sociais, explorando temáticas como necropolítica, desaparecimento forçado e a violência estrutural enfrentada pelas populações trans e travestis no Brasil. Por meio da voz e do corpo, essas performances se tornam instrumentos de resistência, de luta por direitos e de afirmação identitária.




PERFORMANCE 1 - ÁLTAR DA PÁTRIA
"Altar da Pátria" é uma das criações mais impactantes da Coletiva Ruidosa Alma, que aborda a experiência transexual no Brasil – o país mais violento do mundo para pessoas trans e travestis. Esta performance explora as conexões entre os corpos dissidentes e os ícones do nacionalismo brasileiro, utilizando imagens-metáforas de crucificação e rituais de evocação para denunciar as necropolíticas e os desaparecimentos forçados que assolam as populações trans na América Latina.
A cena se desenrola em um diálogo profundo entre o corpo político das performers e as memórias sociais inscritas nos símbolos nacionais, criando um campo de tensão que desafia as estruturas coloniais e cisnormativas. Os corpos em cena, "sem luto," questionam as narrativas de exclusão e invisibilidade que perpetuam as violências coloniais, enquanto convidam os espect-atrizes e espect-atores a se tornarem parte ativa do fenômeno cênico. Por meio de uma estética autoral e relacional, "Altar da Pátria" propõe novas formas de ocupação do espaço cênico e cria um ambiente onde a luta política se faz presente. A performance não apenas denuncia a precariedade e o genocídio trans, mas também celebra a resistência e a potência de existir em um mundo que insiste em silenciar corpos e histórias dissidentes. Assim, "Altar da Pátria" se torna um ritual cênico de memória, luta e reafirmação da dignidade humana.
Os vídeos apresentados são testemunhos vivos do compromisso da Coletiva Ruidosa Alma em dar voz às narrativas trans e travestis, desafiando estruturas sociais opressoras e celebrando a pluralidade de experiências humanas. Por meio dessas produções, reforçamos a necessidade de ocupar espaços artísticos com trabalhos que denunciem as violências coloniais e reafirmem a dignidade e a potência de corpos dissidentes.
No Teatro
No teatro, a coletiva têm produzido espetáculos políticos problematizando as violências historicamente reproduzidas pela sociedade ocidental desenvolvendo trabalhos como "Genon & Cídios", que investiga os genocídios em curso das populações negras e indígenas, das mulheres e da população LGBT no contexto brasileiro; "Altar da Pátria", mergulha nas complexidades da identidade nacional, problematizado e denunciando as necropolíticas impostas sobre as populações trans e travestis no Brasil através da investigação cênica e performáticas de três mulheres trans gaúchas assassinadas no extremo sul brasileiro, Allanis Burgo, Bruna dos Santos e Brenda Lee; e no espetáculo "Dois Pontos", que trás para a cena diferentes abordagens sobre os grandes episódios de violência vivenciados no Brasil, como o regime militar Brasileira, a violência policial e os desaparecidos políticos desse regime. Essas produções teatrais são testemunhas da capacidade da coletiva de criar narrativas provocativas sobre os processos de construção da identidade e experiência nacional.